O porquê

Olá meus caros amigos leitores.

Deixe-me fazê-los compreender algumas coisas. Usei um poema na minha dissertação. Trata-se de Ítaca de Constantino Kavafis. Imprimi-o em uma daquelas páginas pares do início de qualquer trabalho acadêmico. Logo após os agradecimentos. Foi à alucinação de um amigo (outro historiador) que me inspirou. Uma metáfora relacionando a viagem de Ulisses com a minha própria viagem acadêmica. Se aqui eu as contasse, com certeza os amigos iriam defini-las com fazendo parte de uma epopéia. Repleta de percalços, de perigos e de pequenas lições. A escolha do poema e a alucinógena metáfora foram criadas no calor de uma fornada. O trabalho que me requereu sacrifícios, tempo e disposição ficará pronto. E de tudo isso, o que sobrará? A resposta foi dada pelo poema: Uma bela viagem deu-te Ítaca.

No entanto, isso tudo foi uma ilusão criada pelo fim de um ciclo. Pela entrega do trabalho. Ulisses teve infinitamente mais sorte do que eu. Ele somente teve que vencer uma guerra, vagar durante dez anos, lutar contra ciclopes e fugir de mulheres que o aprisionaram. E quando ele chegou a sua casa, teve de se livrar de vários pretendentes a cônjuge de sua esposa. O caro amigo pode até não acreditar, mas a viagem dele foi mais tranqüila que a minha. Para começar ele teve ajuda de Zeus e para encerrar, vencidos os desafios sua história chegou ao fim. Já a minha...

Não estou aqui para falar da minha aventura passada, e nem para provar essa tese. Mas para afirmar que eu não havia chegado a Ítaca como eu havia pensado, pois constatei que a viagem está somente começando. Sinto-me agora como Ulisses, quando percebeu que seu de presente de grego havia lhe proporcionado a vitória sobre os troianos. Contudo, ainda falta vagar pelo oceano, vencer o ciclope e fugir do cárcere da ilha de Calipso. Descobri que a minha viagem ainda continua. Sinto que minha pesquisa, que teve seu começou bem antes do início das minhas atividades do strito sensu, lá nas visitas aos arquivos do Instituto Histórico, precisam continuar. Para qual direção devo tomar, ainda não sei bem qual é. A certeza é que tenho que caminhar! O motivo não é a busca por novos títulos, pois sei que eles virão se a pesquisa prosseguir, mas porque isso já se tornou meu ofício. Ofício de Historiador.

Esse espaço tem a finalidade de ser um diário de bordo. Ser um diário das viagens de Ulisses. A narração de meus passos. Aqui, me proponho a contar semanalmente sobre o caminho que ela [minha pesquisa] está tomando. E com o passar do tempo, quem sabe! Cantar vitórias sobre um ciclope ou outro. Espero que você me acompanhe!