sábado, 30 de julho de 2011

Visita a uma velha conhecida!?

sóbria estrutura da dissertação (a divisão dos capítulos; os objetivos bem definidos para cada um) foi um presente da minha então orientadora Prof. Isabel Marson. Vou descrever resumidamente sobre a dissertação, sem levantar problemas ou indicar lacunas. Essa tarefa foi resolvida pela banca de qualificação e de defesa do mestrado, feita com excelência pelas professoras Iara Lis e Virgínia Camilotti. Suas colocações serão lembradas no seu devido tempo, pois foram primordiais para dar uma maior densidade ao trabalho e são pertinentes para a continuidade da pesquisa.







Vejamos como ficaram distribuídos os capítulos na dissertação:


Introdução

1. Objetivos e Proposições do IHGB.  

2. O Instituto histórico e a produção estrangeira sobre o Brasil.

3. O Instituto e a produção “nacional”.
4. Dificuldades para a confecção de uma História Geral para o Brasil.
Considerações finais: juízos e pareceres norteiam a escrita de uma História do Brasil.


O objeto de pesquisa foi o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e sua produção cultural (os artigos das Revistas do IHGB), mais especificamente os percalços ocasionados pela busca de uma originalidade e unidade da Brasil recém fundado. Desejávamos compreender quais os critérios e as razões que norteariam a escrita de uma História do Brasil, segundo aquela instituição. Entre outros motivos, o IHGB foi criado com o objetivo de escrever a História do Brasil. Como foi essa realização?

Como são inúmeros os artigos contidos na RIHGB foram selecionados somente aqueles denominados de Juízos e Pareceres, publicados nas primeiras décadas do século XIX. São avaliações realizadas sobre obras contemporâneas ao instituto que versavam sobre o Brasil, fossem elas escritas por autores estrangeiros ou "nacionais". Identificamos diferenças no tratamento dado a obras avaliadas, o que definiu a formatação dos capítulos segundo e terceiro. Assim, em um abordamos somente os juízos a obras estrangeiras, no outro os juízos a obras brasileiras. Em ambos se procurou os critérios e as razões para escrita (ou não) de uma História Geral do Brasil.
No primeiro capitulo levantamos o estado da arte sobre os estudos acadêmicos voltados ao IHGB. Selecionamos estudos importantes sobre o IHGB e a sua revista. Aqui, identificamos entre eles a aceitação da ideia de homogeneidade da elite governante, baseada nos estudos de José Murilo de Carvalho. Usamos ainda, os documentos fundantes da agremiação como os extratos dos estatutos, a notícia de criação e o discurso de fundação. Outro conjunto de fontes usado foi os extratos das Atas. O material e a documentação consultada esclareceram o funcionamento do Instituto, quem eram os membros envolvidos, quais as propostas e objetos da instituição, quais os conteúdos da revista e quais conteúdos não foram publicados nela, além de aludir também, nem sempre de forma explicita, as posições políticas de seus integrantes.
Vale ressaltar que a documentação já havia sido incansavelmente abordada pela bibliografia consultada, exceto pelos juízos e pareceres. Sempre como coadjuvante nas notas e rodapés.
Já no último capítulo e nas considerações finais foram identificadas as dificuldades para a escrita de uma história do Brasil. Levantamos também outros documentos: artigos que propunham definir como deveria ser escrita a História do Brasil. Em parte, preocupou-se com o efeito que certas histórias causariam ao turbulento período regencial, inviabilizando assim, a chancela de qualquer História do Brasil escrita naquele período. Restou a aqueles envolvidos com tal tarefa lutar em vão pela aprovação de seus trabalhos no Instituto, como fez Varnhagem, ou versar sobre suas idéias em outros espaços, como fez Gonçalves Dias no movimento romântico brasileiro. O que acabou demonstrando, por fim, não ocorrência de uma elite homogênea.

Bom isso que foi feito, de forma incompleta e inexperiente, mais foi isso!



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Em meio às batalhas travadas por Ulisses na guerra de Tróia, ele deve ter se perguntado quais os motivos e as razões para tudo aquilo.

"nada tão parecido com um saquarema como um luzia no poder"


Antes de começarmos a falar dos próximos passos de pesquisa, vamos visitar uma discussão presente no material da dissertação. Mais especificamente sobre a ocorrência (ou não) de uma homogeneidade na elite formadora do Estado brasileiro durante o século XIX. Logo depois das guerras de independência e da abdicação do Imperador Dom Pedro I. Este foi um dos pontos chaves daquele meu trabalho. E a discussão tem muito haver com o provérbio descrito no título deste post.

Esse provérbio imperial chegou até nós, de certa forma, imperante como memória de que se tem do período imperial, do que se entende pelos meios políticos brasileiros. Concepção de Brasil como composto por uma elite homogeneizada e que dominará a classe mais pobre. Tornou-se um lugar comum das idéias que justificaria concepções de atraso econômico e social para o Brasil.
Por outro lado, essa noção de que o Estado brasileiro foi erigido por uma elite homogênea pode e foi contestada. Ilmar Rohloff de Mattos defendeu em O Tempo Saquarema que o Estado Imperial, foi dirigido pelos conservadores (Saquaremas do Rio de Janeiro) que incluíram seus opositores políticos (Luzias) de forma hierárquica, incluindo estes últimos no processo de formação do Estado mas não permitindo que acendessem aos cargos de direção. Definiu os dois grupos como possuidores de posições políticas distintas.
Interessante foi encontrar em importantes trabalhos sobre o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro a opção pela primeira forma de entender a elite brasileira e o processo de formação do Estado nação. Todos ancorados no trabalho de José Murilo de Carvalho: A construção da ordem. Durante a feitura do meu trabalho, que foi desenvolvido a partir de um questionamento que já se tem por clássico dentro da historiografia: Como se deveria escrever a história [do Brasil recém fundado]? percebi que as disputas fundamentadas em posições políticas distintas, principalmente no que diz respeito à forma dessa escrita, demonstrou uma incompatibilidade de idéias dentro dessa elite (e portanto, uma não homogeneidade) que inviabilizou a chancela por porte do Instituto Histórico de uma original História do Brasil.
Esta foi uma discussão que permeou todo o meu trabalho. Vale o seu aprofundamento. Faço desse ponto o meu próximo desafio de pesquisa. Considero relevante que toda essa discussão inicialmente realizada na dissertação se torne um artigo a ser enviado a uma revista especializada, para passar por sua apreciação. Se isso chegar a se concretizar, não poderá ser considerado um mero passo, mas um grande salto!




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É como se Ulisses tivesse que contar seus mortos, antes de partir para Ítaca.



“Sem documentos não há história”



O século XIX me fascina! Tão perto e tão longe. 

É muito comum se deparar com prédios e monumentos construídos nos oitocentos, é mais evidente do que com os erguidos nos séculos anteriores. Mesmo para aqueles que moram nas antigas cidades do circuito do ouro, o século XIX se faz presente. De tempos em tempos, nós deparamos com datas comemorativas de momentos/fatos ou de personalidades do XIX eleitas para compor o calendário nacional e que são rememoradas anualmente, contra poucas outras de períodos anteriores. Enfim, tão perto pois nós depararmos com inúmeros vestígios daquele tempo. Em muitos casos reunidos em lugares de memória. Nossos acervos! Por outro lado, tão longe, talvez por ser o universo do outro, do estranho. Aquele que não é mais, mas que ainda reside neste tempo.
Quando estudante caminhava por ruas e visitava arquivos e bibliotecas cujo século XIX gritava, mas eu não o via e nem o ouvia. Estava movido por outros objetivos. Eu não o havia percebido. Mas foi numa tarde, quando olhava para as estantes do arquivo do Instituto Histórico de Piracicaba alguma coisa me chamou a atenção. Parecia um grupo de livros com encadernação muito semelhante. Todo numerado! Peguei uma escada para alcançar os primeiros volumes que estavam no alto e comecei a manusear o material. Eram na realidade revistas, publicadas no século XIX pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). (baixar aqui!) Fascinante! Naquele momento, entre relatos de povos indígenas e relatos de incursões pelo interior do Brasil realizados por portugueses no século XVIII, interessei-me por um artigo: Juízo sobre a História do Brasil publicado em Pariz pelo Dr. Francisco Solano Constancio. Ele deu rumo as minhas pesquisas que vieram a se constituir numa dissertação.
Eu já havia conhecido um pouco do IHGB. Durante a graduação passei por um texto de Manuel Luis Salgado Guimarães sobre aquela instituição, publicado no primeiro número da revista Estudos Históricos. (leia aqui!) Naquela época dei a importância que um aluno de graduação dá as suas tarefas de formação. Mas quando me encontrei com aquela estante ocupada por uma coleção de revistas do instituto! Vislumbre! Aquela coleção de documentos me seduziu e o século XIX passou a fazer parte do meu oficio.

Bem, de início será desse conjunto de revistas que minhas pesquisas irão partir, e é claro serão pautadas pelo trabalho que já tenho por pronto, pelo menos devidamente concluído e entregue. Ou melhor, vou (re)visitar meu primeiro conjunto de fontes e passar os olhos pela minha dissertação, adormecida por quase dois anos.  




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Acho necessário visitar a memória para me lembrar de como foi que Ulisses venceu a guerra de Troia.